7 de março de 2011

Um pouco de lucidez

E havia sido tantas vezes torturado; jogado de um lado para outro emocionalmente, que chegou um momento que não sentia mais nada.
Nem lágrimas caiam.
A impressão era de que tinha se tornado um homem frio. Sem sentimentos ou vontades. Aparentemente ele se mostrava bem, sem dor, preocupação, mágoa, rancor ou ressentimento.
Mas lá no fundo, num espaço onde nem ao menos sabia que existia, havia uma tristeza profunda por não ter conseguido. Por ter tentado pouco, talvez.
E não havia nada que pensasse ou lesse, ou até mesmo que alguém dissesse, que pudesse mudar a situação. A morte já não era uma estranha. Era uma amiga esperada, uma amante aguardada, com tanto ardor e vontade como teve antes, com a distante e ex-amante, vida.
O que fazer quando se deseja a morte, mais do que a própria vida?
O que fazer quando o corpo quer ficar inerte e a alma voar acima do pensamento?
O que fazer quando nada mais importa, a não ser a liberdade de ter escapado da vida?
O que fazer, quando não há mais nada a fazer?
Esses eram seus pensamentos, enquanto ainda restava um pouco de lucidez.

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